"(...)Turner inspirou-se nas teorias de Goethe, mas não aceitou todas as suas conclusões. Nas notas à margem que escreveu na sua edição dos trabalhos do poeta registou diversas críticas, por vezes exclamando «Pobre Senhora Natureza!» No entanto, reagiu favoravelmente aos estudos de Goethe sobre a impressão causada pelas cores. Pintou alguns quadros, explorando esses estudos, nomeadamente Light and Colour (Goethe’s Theory) – The Morning after the Deluge, onde joga com o círculo de cores, tão caro ao poeta. Nesse quadro aparece uma esfera com pinceladas de cores «efémeras» (amarelos), onde cores quentes e «esperançosas» (vermelhos) se sobrepõem às ameaças em diluição das cores «ameaçadoras» (azuis). Trata-se da manhã seguinte ao dilúvio, uma manhã de reinício da vida após uma noite devastadora.
Goethe tinha também estudado a adição de cores e tinha verificado que a sobreposição de pigmentos vermelhos, azuis e amarelos criavam o negro, o que tomou como uma refutação experimental da teoria de Newton. Não percebeu que se tratava da sobreposição subtractiva de cores, em que os pigmentos retiravam sucessivamente da luz branca as suas diversas componentes. Na sobreposição aditiva de cores, conseguida, por exemplo, com focos luminosos vermelhos, azuis e verdes, passa-se o contrário, gerando-se a luz branca quando os diversos focos se intersectam.
Curiosamente, Turner foi um dos primeiros artistas a perceber perfeitamente o problema. «O branco», escreveu, é «a união ou composição da luz», enquanto «a mistura das nossas cores materiais se torna o oposto, negritude». O pintor pôs sabiamente em prática esse seu conhecimento. Nas suas aguarelas, como se pode ver, por exemplo, nos arco-íris, a ausência de tintas e o contraste de cores gera a impressão da luminosidade completa da luz do Sol. Para Turner, a compreensão das leis da natureza era um ponto de partida para melhor pintar as suas emoções."
por Nuno Crato in Expresso em 2003
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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